Animalterapia

Em 1983 aos nove anos de idade, por sofrer bullying no primário pela dificuldade de aprendizagem, a orientadora escolar pediu para que meus pais me levassem a uma psicóloga. O consultório da profissional indicada ficava muito longe da minha casa , no bairro Vila Isabel , por isto eu e minha mãe precisávamos pegar o ônibus.

A clínica ficava numa casa antiga datada do século dezenove . Ao lado dela tinha uma casa abandonada. Um certo dia, antes de fazer minhas sessões , notei que naquela rua havia uma pastora – alemã abandonada , porém muito dócil. Naquele mesmo instante fiquei amiga da cachorra e ela passou a brincar comigo todas as vezes que me via. Logo pensei:

  • Se fosse uma gata em vez de cachorra, será que ela seria minha amiga , deste jeito, assim ?
  • Alguns meses depois notei que a cadela desapareceu sem nenhuma razão . Naquele mesmo dia , a psicóloga recebeu uma nova paciente: Graziele. Ela era uma adolescente de treze anos, que não levantava a cabeça e nem falava . Então minha mãe chamou – me no canto e explicou – me:
  • Esta garota ficou assim porque o tarado pegou.
  • Por isto é que eu digo para você tomar cuidado…
  • Se alguém oferecer – lhe balas e caronas nunca aceite!

Naquela época não tinha tantos casos de pedofilia como tem agora . Mas sempre tive medo destes bandidos e por isto sempre estava em alerta. Alguns dias depois , eu estava brincando no “parquinho” da clínica . Quando , de repente , vi a pastora – alemã . Porém ela estava com um olhar, triste, cabisbaixo e a sua parte traseira parecia estar muito machucada. Naquele segundo a psicóloga saiu da clínica para me chamar, viu o problema da cachorra , resolveu leva – la ao veterinário e adota – la.

Quando a doutora recolheu a cadela para dentro da clínica, o animal foi direto para o colo de Graziele, que ergueu o olhar para o bicho e pela primeira vez na vida vi aquela garota falar a palavra “oi”. A partir daquele instante a terapeuta decidiu fazer as sessões de Graziele junto com a cachorra .

Quatro meses depois a menina voltou a falar normalmente. Alguns anos depois , em 1997, descobri que a cadela sofreu o mesmo tipo de violência que vitimou Graziele. Além disto, surgiram pesquisas afirmando que pessoas vítimas de estupro que fizeram terapias acompanhadas por animas , que sofreram o mesmo tipo de violência, tiveram um resultado melhor . Este método foi apelidado de “animalterapia”.

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Luciana do Rocio Mallon

Luciana do Rocio Mallon é formada em Letras pela UFPR e autora de livros sobre lendas.

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